Sociedade Alagoana de Infectologia faz recomendações para que sejam evitadas mais mortes por coronavírus

Por Portal de notícias em 28/04/2020 às 20:26:45


Documento diz que número de internações pode chegar a 4 mil por dia no estado, caso medidas preventivas não sejam respeitadas. Carta aberta sobre coronavírus divulgada pela Sociedade Alagoana de Infectologia

Reprodução

A Sociedade Alagoas de Infectologia (SAI) divulgou nesta terça-feira (28) uma carta aberta com uma análise do sistema de saúde de Alagoas e recomendações aos gestores para que mais mortes por coronavírus sejam evitadas no estado. No documento, a entidade diz que o número de internações por dia em Alagoas pode chega a 4 mil.

Até o início desta tarde, o estado tinha 777 casos confirmados de coronavírus. Dos leitos exclusivos para casos suspeitos ou confirmados, 137 estavam ocupados, o que corresponde a 36% do total, sendo 52 pacientes em UTI, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau).

A SAI recomendou adequações no sistema de saúde para o sucesso no tratamento do coronavírus.

"O diagnóstico precoce dos casos, a identificação ágil dos sinais de gravidade e o início do tratamento hospitalar adequado, são decisivos para uma melhor evolução dos casos mais complicados. Portanto, estes pontos são norteadores para elaboração de fluxos, que se bem aplicados, poderão evitar muitas mortes", diz um trecho do documento.

Na coletiva desta terça, o secretário de estado da Saúde, Alexandre Ayres, disse que recebeu o estudo dos infectologistas.

"Esse estudo muito bem elaborado pelos médicos alagoanos, pelos infectologistas, está sendo avaliado e analisado aqui pela secretaria. Eu recebi com muito cuidado esse material para que a gente possa acatar várias sugestões aqui presentes e melhorar ainda mais a prestação de serviço nesse momento de enfrentamento da Covid-19 em Alagoas", disse Ayres.

O primeiro ponto crítico no sistema de saúde a ser destacado foi a dependência quase que total de transporte em ambulância do tipo UTI móvel.

"Para que os casos graves e críticos cheguem à maioria dos leitos de enfermaria e UTI destinados aos casos de COVID-19, uma vez que não há pronto atendimento médico na estrutura do próprio hospital, à exceção do Hospital Escola Hélvio Auto e de algumas unidades do interior do Estado. Ou seja, para que o paciente tenha acesso a estes leitos, necessita obrigatoriamente passar por atendido em uma unidade de saúde externa ao hospital (exemplo: UPA, HGE). Este é um gargalo importante, considerando a velocidade na evolução para estado crítico, quando da presença de sinais de gravidade, e o número de casos estimados para a população alagoana, que poderá chegar a mais de 4.000 internações em um mesmo dia", diz a nota.

De acordo com a SAI, outro problema do sistema de saúde de Alagoas é a destinação de leitos de Unidades de Pronto Atendimento (UPA) para internação e tratamento.

"A menos que haja adequação do espaço físico e de recursos humanos, especificamente para o cuidado dos pacientes internados, haverá prejuízo tanto para a atividade habitual destas unidades (pronto atendimento), quanto à atividade pretendida (assistência hospitalar), uma vez que estes leitos, pela característica assistencial das UPAs, são destinados apenas à observação, estabilização e posterior transferência, idealmente nas primeiras 6 horas de atendimento, com limite máximo de 24 horas. Esta decisão traz grande risco, pela impossibilidade técnica da mesma equipe que presta pronto atendimento assistir adequadamente pacientes internados, e pela necessidade imperiosa para esta epidemia de que haja rotatividade nas unidades que prestam prontobatendimento, para abrir rapidamente espaço à novos casos que necessitarão de atendimento imediato e estabilização", diz trecho da carta.

A Sociedade Alagoana de Infectologia analisou o que está disponível na rede de urgência e de emergência de Alagoas, como Serviço de Atendimento Móvel, Unidades de Pronto Atendimento, leitos de UTI, e elaborou recomendações aos gestores baseada na dinâmica da Covid-19 e dos dados disponíveis.

As fontes de consultas dos dados estão descritas no documento técnico "Análise da rede de assistência às Urgencias/emergência no território de Alagoas, no contexto da Pandemia de COVID-19, e sugestões de aperfeiçoamentos e potencialização de acordo com o perfil da doença".

"Cientes de que não é tarefa fácil para nenhum sistema de saúde se adequar a uma epidemia com esta dimensão, mas confiantes de que os gestores públicos do nosso Estado não pouparão esforços para assistir a população da melhor forma possível, nos colocamos a disposição para dar auxílio técnico no que for pertinente à esta Sociedade Médica, para além da contribuição que pretendemos dar com a elaboração deste documento técnico", diz no documento o infectologista Fernando Maia, presidente da SAI.

No documento técnico, a SAI recomendou:

Reduzir ao máximo a circulação do pacientes entre serviços, observando todos os cuidados de biossegurança e de segurança na locomoção intra e interinstitucional;

Na estruturação/preparação dos serviços hospitalares de com leitos de Enfermaria e UTI para COVID, recomendamos que em pelo menos parte deles, haja no mesmo edifício, serviço de pronto-atendimento com espaço físico adequado para observação, leitos para internação de casos moderados (enfermaria) e de casos graves (UTI), reduzindo a necessidade de utilização de ambulâncias para transporte secundário.

Nos casos excepcionais em que esta medida não seja possível, que haja garantia de transporte seguro, de acordo com a gravidade do paciente, para que não haja retardo na internação hospitalar, quando esta estiver indicada;

Para garantia de transporte seguro pode ser feita com ampliação de USA do SAMU, adaptações de ambulâncias já disponíveis nos municípios, com equipamentos e recursos humanos necessário (médico, enfermeiro e condutor) treinado para este tipo de atendimento, ou ainda contratando dos serviços privados, a modalidade de UTI Móvel, para o transporte de usuários do SUS que necessitam de transporte de um serviço de urgência para um leito hospitalar;

Os equipamentos de saúde provisórios, a exemplo dos hospitais de campanha, devem estar preparados para dar o máximo de resolutividade possível, sem necessidade de deslocamento em ambulâncias, com no mínimo sala de estabilização no pronto atendimento para os pacientes mais graves que aguardam transporte e leitos de enfermaria para internação rápida e início ágil do tratamento dos casos moderados.

Protocolos de atendimento e tratamento proposto por especialistas ou pelo MS devem ser seguidos cuidadosamente, evitando retardar internação e tratamento de pacientes com primeiros sinais de complicação;

Os profissionais envolvidos na assistência devem ser treinados cuidadosamente para o uso adequado dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e demais medidas de biossegurança.

Equacionar a distribuição dos serviços entre as regiões e macrorregiões de saúde, de acordo com a quantidade estimada de habitantes que inevitavelmente adoecerão.

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